terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A Estrutura Significante e a Pulsão

Marcos Spagnuolo Souza
Resumo do capítulo “A estrutura significante e a pulsão” escrito por Antônio Quinet no livro intitulado “A descoberta do Inconsciente”
O que não foi aceito pelo consciente passa a ser representação recalcada constituindo o inconsciente. Recalque e inconsciente são, portanto, correlativos. Os recalques subsistem no inconsciente que se estrutura como uma linguagem da pulsão. O que foi recalcado ou não aceito pelo consciente fica no inconsciente em forma pulsional, ou seja, em forma de energia potencial. Esta energia potencial se manifesta em forma significante, isto é, em figuras, em símbolos que representam o pulsional. O significante é apenas uma forma esvaziada de sentido, como uma palavra estrangeira desconhecida ou o nome próprio que, embora designe nada signifique. É difícil separar pulsão de significante. A pulsão é o recalcado em forma de energia potencial inconsciente, sendo que está energia toma forma e estas formas são denominadas de significantes e os significantes não possuem sentido, são apenas significantes. O inconsciente não é pura articulação de significante. O significante é a manifestação da energia pulsional. A energia pulsional trabalhada ou não afeta diretamente a estrutura psíquica.
O pulsional pode ser Eros e Tanatos. Do Eros brotam as flores da união, à aspiração ao Um, à vida, a reprodução. Do Tanatos brotam as flores do mal, onda a pulsação da vida é mordida pela morte, destruição, desunião, angustia e impulso que na vida só quer morrer. A pulsão de morte é o que vem fazer objeção ao Um da relação sexual de complementaridade prometida por Eros.
O pulsional Eros e Tanatos se manifestam em formas significantes que surgem nos sintomas, nos sonhos e nos atos falhos. O sintoma, como um derivado do recalcado, é uma formação do inconsciente, ou seja, uma formação substitutiva do significante recalcado sendo, portanto, uma metáfora. O sintoma é uma atividade sexual, sendo o modo pelo qual o paciente goza. A pulsão se satisfaz no sintoma e logicamente o sintoma pode ser de vida ou de morte. Os atos falhos são diferentes dos sintomas, pois são manifestações pulsionais em que o sujeito repete ao invés de recordar. Os atos falhos equivalem a uma confissão do sujeito. Esses atos exprimem o que o sujeito tem a intenção de guardar para si, ao invés de transmitir aos outros. Nessa confissão, a dimensão do Outro está sempre presente: o sujeito envia, assim, sem querer querendo, uma mensagem inconfessa. O ato falho é, na verdade, bem-sucedido em dizer sobre o recalcado. O ato falho o sujeito endereça sua mensagem ao Outro e possui valor de verdade.
Para que os recalques possam emergir a psicanálise opera sobre o inconsciente, que dá prevalência ao significante, pois o significado nada mais é que outro significante que, junto com o primeiro, produz efeito de sentido.
Processo de análise é o processo de deciframento dessa articulação significante, que nada mais é do que um desdobramento, um desenrolar das cadeias de associação de significantes. O que mostra que quem faz a interpretação dos seus próprios sonhos é o sonhador. Quem interpreta é, portanto, o próprio sujeito, ao deixar-se vagar por suas associações. Na análise o analista não pode atribuir os seus próprios significados aos significantes do paciente. Necessário ouvir quais são os significados do analisado, ou seja, qual é a cadeia associativa que ele desenrola. Isso muda completamente a teoria da interpretação.
Da análise, espera-se que o paciente conheça os significantes primordiais que o determinaram em sua história e em sua vida a partir da decifração do inconsciente, para que possa deles se desalienar escapando de seu poder de comando. Para que o paciente tenha consciência dos seus significantes primordiais, o analista deve ter condições de oferecer um espaço propício para o inconsciente do paciente se manifestar. O analista para o paciente é o lugar onde o inconsciente se manifesta, o local onde o paciente dirige sua fala. O Outro como sendo o lugar de onde pode ser colocada a questão de sua existência, isto é: de sua sexualidade e de seu desejo, de sua procriação e de sua filiação, de sua existência e de sua morte, do destino que terá sido o seu, enfim. Outro, portanto: um lugar de questionamento do sujeito. O outro é um lugar, pois o Outro não é ninguém. O analista, prestando-se a ser o lugar, faz com que, através da associação livre, o inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio sujeito. Um paciente em análise dizia para o analista: “Eu sei que você não tem aí nenhuma função, a única coisa que você faz é me fazer falar; aí eu pensei cá comigo, que podia continuar sozinho. Até que entendi que a sua função é essencial, pois é nos momentos em que estou em casa pensando na análise, ou vindo para cá, ou aqui na análise, que começo a pensar as minhas coisas.” Pode parecer estranho, mas o inconsciente se presentifica na poltrona do analista. O inconsciente vai se situar nesse lugar. A função do analista é fazer existir o inconsciente, para que o próprio sujeito possa encontrar as cifras do seu destino, seus significantes mestres.
O analista deixa o paciente em associação livre como sendo a única regra da psicanálise compatível com a decifração do inconsciente. Através da associação livre o paciente vai desenrolando as cadeias significantes até cair em uma formação de pensamento.
Propriedade do significante: A primeira propriedade indica que um significante não se define pelo significado e sim por outro significante, com o qual ele vai estar em oposição. O exemplo freudiano clássico é o jogo do carretel da criança: para simbolizar a ausência e a presença da mãe, ela utiliza um carretelzinho com um fio e emite, num movimento de afastar e aproximar o carretel do seu corpo. A mãe é um significante e o carretel outro significante, a mãe é definida pelo carretel e o carretel é definido pela mãe.
A segunda propriedade existe uma ordem fechada de significantes que constitui a repetição própria ao inconsciente, mostrando que a associação livre não é tão livre, pois as cadeias significantes têm uma amarração que faz com que se esteja sempre voltando aos mesmos lugares.  O encadeamento dos significantes segue determinadas vias particulares de cada sujeito. O inconsciente como o conjunto de cadeias significantes em que cada uma, como um anel, se articula com outra cadeia significante formando assim anéis dentro de um colar, que se articula com outro anel de outro colar, feito de anéis e este com outro colar e assim sucessivamente. O inconsciente é constituído por anéis de cadeias significantes articulados em colares que se conectam entre si. Um significante de uma cadeia faz também parte de outra cadeia significante que se conecta com outros significantes, mostrando assim a sobredeterminação de toda formação do inconsciente.
Terceira propriedade: O inconsciente é equivocidade onde a cadeia significante possui vários significados, mas um sentido que surge devido à posição do significante na sua conexão com os outros significantes. Para se chegar ao significado o que importa é a localização do significante em relação a outro significante. Inconsciente é lugar de várias interpretações.
Em resumo podemos dizer que o não aceito pelo consciente passa ao nível inconsciente e ali fica em forma de energia pulsional potencial. A energia pulsional se manifesta na forma significante, no entanto, manifestando ou não afeta diretamente toda a estrutura psíquica. O analista do inconsciente deve trabalhar com associação livre, deixando as pulsões e significantes se manifestarem livremente. Quem elabora sentido para os significantes é o próprio agente que possui os significantes pulsionais. Os significantes se manifestam em atos falhos, sintomas e sonhos. Cada significante não é isolado, mas pertence a uma cadeia de significantes e as cadeias de significantes sempre se manifestam. Os sentidos atribuídos aos significantes são vários e dependendo da conexão com outros significantes.

REFERÊNCIA
QUINET, Antônio. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Método da Associação Livre

Marcos Spagnuolo Souza

A associação livre é o método terapêutico da psicanálise onde o paciente não é pressionado na busca de uma lembrança específica. O paciente é deixado livre para o que vier a sua cabeça. O paciente é incentivado a superar as suas limitações e suas resistências. O paciente é livre para dizer tudo que vem no seu pensamento. O analista deixa o paciente totalmente aberto para que ele se veja livre de toda coerência e superar suas reservas.
O analista deve apenas escutar e interferir apenas para quebrar as resistências do paciente de acordo suas possibilidades. É o paciente que determina o curso da análise e o analista interferi apenas para ajudar o paciente atravessar qualquer tipo de restrição.

Da análise, espera-se que o sujeito conheça os significados primordiais que o determinaram em sua história e em sua vida a partir da decifração do inconsciente, para que deles se desalienar escapando de seu poder de comando (Quinet, 2008:45).

O analista faz com que, através da associação livre, o inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio sujeito. Quem faz a interpretação dos seus próprios sonhos é o sonhador, quem interpreta é, portanto, o próprio sujeito, ao deixar-se vagar por suas associações (QUINET, 2008).

O papel do analista diante do paciente não é um papel neutro, de um ouvinte passivo. O analista é um ponto de convergência do inconsciente, ou melhor, é uma porta aberta para o inconsciente paciente passar. O analista faz com que o inconsciente se presentifique e possa ser decifrado pelo próprio paciente. Quinet (2008) salienta que um paciente em análise lhe dizia:

Eu sei que você não tem aí nenhuma função, a única coisa que você faz é me fazer falar; aí eu pensei cá comigo, que podia continuar sozinho. Até que entendi que a sua função é essencial, pois é nos momentos em que estou em casa pensando na análise, ou vindo para cá, ou aqui na análise, que começo a pensar as minhas coisas (QUINET, 2008:28)
Não apenas o analista, mas o próprio consultório é um campo que faz o inconsciente existir, ou seja, se aparecer naquele momento com grande intensidade. Quinet (2008) diz que o inconsciente se presentifica na poltrona do analista, o inconsciente vai se situar nesse lugar. A função do analista é fazer o inconsciente existir para que o próprio sujeito possa encontrar as cifras do seu destino, seus significantes mestres. A posição do analista possibilita o levantamento do recalque, permitindo a emergência do sujeito do inconsciente, o sujeito do desejo.

Referência
QUINET, Antônio. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Retornando a Freud com Lacan


Marcos Spagnuolo Souza
Resumo do capítulo “Retornando a Freud com Lacan” escrito por Antônio Quinet no livro intitulado “A descoberta do Inconsciente”.
Osupereu” é a sociedade que quer elaborar um “eu” ideal dentro dos parâmetros sociais. O supereu esta sempre apontando o caminho para atingir o ideal social. A civilização é o lugar da expressão do “supereu” na medida em que exige sempre do “eu” a renúncia pulsional. O “supereu” aparece como figura de autoridade, de imposição, de comando e até mesmo de tirania. Está sempre acuando o “eu” ao forçá-lo a realizar o impossível de suas exigências, empurrando-o a satisfazer seus ideais e, ao mesmo tempo, a renunciar a pulsões.
O “eu” é o senhor da consciência e do corpo. O “eu” diz penso, logo sou. O “eu” se define pelo que está falando, pelo que está pensando e pelas suas ações corporais. O “eu” possui pensamento consciente. O “eu” não se confunde com o sujeito do desejo inconsciente. O “eu” barra o desejo do sujeito inconsciente. O “eu” nunca compreende o inconsciente e o sujeito do desejo.
O inconsciente é o barrado pelo “eu”. O inconsciente comporta desejos que o “eu” não-quer-saber. É constituído de significantes, que deslizam sem cessar não se detendo em significados. Significantes articulados a outros significantes. Significantes que materializam desejos. São duas as leis do inconsciente, ou seja, a metáfora e a metonímia. A metáfora é uma substituição de um significante por outro significante. Tomemos uma frase: A mulher é uma rosa. Será que a mulher é uma rosa? Uma planta? Rosa é uma metáfora. A metonímia: “Trinta velas despontam no horizonte” Ao invés de se falar barco, fala-se vela, de acordo com a definição da metonímia que é a parte pelo todo, pois se tomou parte do barco, a vela, para se referir ao barco. A metáfora constitui o sintoma, a metonímia caracteriza o desejo. O desejo é marcado pela falta, por aquilo que falta.
O inconsciente é significante e não é significado. Significante (a palavra) e Significado (Conceito): Quando se diz árvore, temos o que ela significa e o seu som. Quando se diz árvore, todo mundo já tem a representação de alguma árvore. Toda palavra, portanto, que ele chama de signo lingüístico, tem seu som, que ele chama de imagem acústica (o simples som), e o conceito de árvore, ou seja, o significado daquele som que é a coisa que o som designa. A imagem acústica, esse som extraído de seu significado, para aquém ou para além do conceito que a representa, o puro som, é o significante. (O som é o significante e o conceito é o significado). Lacam vai inverter essa relação, colocando o significante em cima e o significado em baixo (S/s) porque o inconsciente se interessa muito mais pelo significante do que pelo significado, ele é constituído por cadeias de significantes. Por mais que tenhamos um vocabulário em comum e que eu tenha a impressão de me comunicar com a audiência, o que digo evoca em cada um as coisas distintas que fazem associar a outras tantas coisas. As palavras que uso atribuo determinados significados e, felizmente, há alguns significados em comum que podemos partilhar, senão todos falariam um dialeto particular que seria incompreensível para qualquer outro. Se, por um lado, partilhamos de significados comuns a certos significantes, por outro lado, o fato de falarmos a mesma língua não impede o mal-entendido próprio à linguagem, que nos indica que não estamos tão distanciados da torre de Babel. Cada um tem o seu “idiolês”. No dicionário, significantes têm não um, porém uma série de significados.

No inconsciente origina-se a pulsão que possui sua causa no desejo. Pulsão é o impulso para a satisfação do desejo. Trata-se de um impulso perverso, pelo fato de usar o outro não como uma pessoa, mas apenas um pedaço de seu corpo para satisfazer a pulsão, pois a pulsão não considera o parceiro como um sujeito e sim como um objeto. O desejo nunca será satisfeito com algum objeto. Não é pelo fato de se encontrar num objeto que vai saciar a fome que a pulsão vai deixar de se manifestar. Continua-se querendo comer uma determinada coisa, e em seguida outra e mais adiante ainda outra, apesar de não se estar mais com fome. Quanto mais se come, mais apetite se tem. Pode-se também querer comer alguém, no sentido sexual, fazer sexo oral, comer outra pessoa com os olhos, o que demonstra que a pulsão oral nada tem a ver com o instinto de fome. Existe a pulsão de morte que se manifesta no sentimento de culpa, no masoquismo moral e também nos dissabores da vida amorosa e da transferência. A pulsão de morte é responsável pela repetição, trazendo ao sujeito uma satisfação paradoxal para-além do princípio do prazer, repetição que faz parte do próprio inconsciente, na medida em que se está sempre repetindo os mesmos circuitos das cadeias associativas. Representações inconscientes que se repetem sem cessar. Quem já tem um tempo de análise, certamente já se sentiu e formulou algo como: “Já falei tantas vezes sobre isso! Eu nunca consigo deixar de falar da mesma coisa” – ilustrando assim que o inconsciente está amarrado na repetição, articulado numa pulsão de morte que faz com que se retorne sempre a um mesmo lugar. Retorno ao lugar que faz sofrer, retorno que não é regido pelo princípio do prazer, mas permeia o mundo simbólico, traçando as vias por onde circula o sujeito, demonstrando a incidência da pulsão de morte no inconsciente.
Desejo é desejo de uma coisa, daqui a pouco já é de outra coisa e em seguida de outra. É isso que confere ao desejo seu aspecto enigmático: ele está sempre escapando como no jogo de passar o anel. Você acha que é aquilo e já não é.
O inconsciente nos mostra que o que interessa não é cadeira com seu significado, não é o significante com o seu significado. Não é no nível de significado que o inconsciente se manifesta. O inconsciente se manifesta pelo significante que não possui um significado dado pelo “eu” e sim um significado barrado. O significante pode significar um desejo do inconsciente e não um desejo do “eu”. Descobrir o que remete o significante. Exemplo: uma cadeira pode remeter a uma sena da infância, debaixo da qual aconteceram determinadas coisas fortes da vida libidinal do sujeito. Na análise trata-se não da articulação da cadeira com seu significado e sim da articulação do significante cadeira com outro significante que possui outro significado. O psicanalista para desvelar o inconsciente possui: o sonho, o ato falho, o sintoma e a neurose.
O sonho é realização de desejo apontando para a existência de pensamentos recalcados inconscientes. Nos sonhos, às vezes aparecem pessoas, que não se sabe quem são, mas que, ao se analisar, verifica-se que têm o nariz de um, a boca de outro e o andar de um terceiro, sendo, portanto uma condensação de vários personagens que foram importantes na vida do sonhador. Os sonhos funcionam na base do jogo de significantes. Importância de certos significantes que constituem os significantes mestres norteadores de sua existência. É a partir do relato do sonho, que os significantes vão se conectando com outros significantes, fazendo assim aparecer os significantes recalcados por onde rolam os dados do desejo. 

O ato falho pode ser o esquecimento de um nome e, surgimento de outro nome que substitui o esquecido. Exemplo de ato falho: um presidente que, ao abrir uma sessão que ele sabe que vai ser muito difícil e polêmica, diz em sua fala inaugural: “declaro fechada a sessão, oh! Quero dizer, declaro aberta a sessão”, mostrando ai o ato falho como um ato bem-sucedido em declarar o desejo do sujeito.
Sintoma é o surgimento de um recalque descaracterizado substituindo o que foi de fato recalcado. O que foi recalcado pode ser admitido na consciência, pois se apresenta descaracterizado, que não apresenta risco. É o significante de um significado recalcado. O sintoma fala a quem não quer ouvi-lo. Anorexia é um sintoma: mães respondem ao pedido de amor da criança dando alimento o tempo todo. A criança poderá apresentar anorexia como uma forma de dizer que não é o alimento que ela quer. Quando o “eu” não permite a pulsão satisfazer o desejo, a pulsão se satisfaz no sintoma.
Neurose é uma angustia que possui sua origem na divisão do que o “eu” não quer o que o inconsciente quer.  O sujeito é dividido entre o que ele quer inconscientemente e o que ele conscientemente não quer ou ignora que quer. Sujeito dividido: divisão entre o inconsciente e o consciente.
Referência
QUINET, Antônio. A descoberta do inconsciente. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Jung: A Estrutura da Psique e Seu Objetivo

Marcos Spagnuolo Souza

O Mestre somente pode transmitir ao discípulo a teoria, ou seja, a teoria representa o único bem verdadeiro que o adepto pode tomar como ponto de partida. A primeira coisa que o buscador deve encontrar é a prima matéria, ou seja, o segredo dos sábios, a pedra preciosa, o Si-Mesmo. A teoria ou doutrina transmitida pelo Mestre é a experiência interior do próprio Mestre que ele transmite ao buscador da verdade (Jung, 1986:133).

1Psique

A psique foi ignorada a partir do século XVIII, com o advento do cientificismo, sendo considerada como sendo sintoma das reações químicas, um epifenômeno de processos celulares, ocorridos no cérebro. A psique, eliminando o período cientificista, é considerada como sendo uma organização subjetiva que possui uma estrutura consciente e inconsciente que reflete objetivamente na formação somática, sendo a verdadeira portadora e geradora dos princípios morfogenéticos.

A psique do recém-nascido, não é um quadro em branco, um nada vazio, ao qual, sob circunstâncias favoráveis, tudo pode ser ensinado. Pelo contrário, ela é uma condição prévia tremendamente complicada e rigorosamente determinada por inúmeros aspectos conscientes e inconscientes. Observamos que mesmo no feto, ainda no útero materno, ocorrem as primeiras manifestações visíveis da vida psíquica. Atualmente, é impossível supor que todas as particularidades do recém-nascido sejam criadas somente no momento em que aparecem. 

O ser humano possui, como todo animal, uma psique pré-formada de acordo com sua espécie. O tipo específico humano está contido no inconsciente coletivo. A idéia de que a forma humana não é herdada, mas criada de novo em cada ser humano, é tão absurda quanto à concepção primitiva de que o Sol que nasce pela manhã é diferente daquele que se pôs na véspera. O ser humano, ainda no útero materno, é moldado pelos arquétipos existentes no inconsciente coletivo e recebe os instintos igualmente determinados por sua forma.

A psique possui a seguinte estrutura dentro dos limites da nossa pesquisa: persona, inconsciente pessoal, inconsciente coletivo, Si-Mesmo e o aspecto somático. Persona é o sistema da adaptação ou estilo de nossa relação com o mundo, sendo constituído do “eu” e consciência. Podemos até dizer que a persona é o que não se é realmente, mas sim aquilo que os outros e a própria pessoa acha que se é. Inconsciente pessoal, denominado de sombra, é o lado obscuro da personalidade humana, rejeitado pela consciência, é o obscuro que se adere a cada “eu”, sendo o pórtico dos sonhos. Inconsciente coletivo é formado por inúmeros arquétipos denominados de: Anima (sucubus). Animus (incubus) e os Arquétipos de Transformação (Velho Ancião). Si-mesmo é o ser imortal que está em estado de potência. O somático possui dois aspectos: o somático gerado pelo ser humano que é finito no espaço/ tempo e o somático glorioso denominado de Kadir.


Em síntese: a organização da psique possui uma estrutura consciente e inconsciente que reflete objetivamente na formação somática, sendo a verdadeira portadora e geradora dos princípios morfogenéticos. A psique do recém-nascido, não é um quadro em branco, um nada vazio, ao qual, sob circunstâncias favoráveis, tudo pode ser ensinado. Pelo contrário, ela é uma condição prévia determinada por inúmeros aspectos conscientes e inconscientes. Observamos que mesmo no feto ocorrem as primeiras manifestações visíveis da vida psíquica. A psique possui a seguinte estrutura dentro dos limites da nossa pesquisa: persona, inconsciente pessoal, inconsciente coletivo, Si-Mesmo e o aspecto somático.

1.1 Persona

A persona situa-se no nível consciente, sendo formada por todos os ensinamentos que recebemos a partir do momento em que ocorre o nascimento. É insustentável pensar que a persona expresse a totalidade da estrutura psíquica. O conteúdo da persona não é idêntico ao todo. A persona está longe de abranger a totalidade da psique. A persona tem tendência de menosprezar o inconsciente e seus impulsos. A persona volta-se sempre contra o inconsciente, excluindo-o tanto quanto possível. A persona exclui o inconsciente porque é incapaz de assimilá-lo, pois, na realidade, o inconsciente é inconsciente, isto é, a persona não o conhece, não podendo assimilar o desconhecido para ela.

A persona é uma totalidade formada pela consciência e pelo “eu”. A persona não pode em hipótese alguma perder a consciência. A persona mantém-se firmemente ancorada na terra, desconhecendo o inconsciente. Todo o esforço da persona concentra-se na consolidação da consciência e do “eu”. A persona não ultrapassa o pórtico da consciência.

A consciência é o que estamos percebendo vivenciando sempre o presente, fazendo o ser humano viver em um maravilhoso mundo novo, fazendo-o considerar-se espantosamente novo e "moderno".  A juventude da consciência humana ignora seus antecedentes históricos. A consciência não preocupa com as condições prévias ancestrais e não calcula a influência do fator a priori sobre a configuração do destino. A consciência não possui uma história que abrange um passado bastante longínquo. A consciência possui sempre um novo princípio e um fim prematuro.

É impossível dizer os limites do campo da consciência, porque este pode estender-se de modo indeterminado no espaço/tempo. Empiricamente, porém, ele alcança sempre o seu limite, todas as vezes que toca o âmbito do desconhecido. O desconhecido é constituído por tudo que não possui consciência e a consciência é incapaz de abarcar a totalidade.

A consciência do ser humano possui um instrumento eficaz para a realização de seus conteúdos através da dinâmica da razão, representando a possibilidade da liberdade humana, mas, por outro, o crescente fortalecimento da razão, baseando-se na unilateralidade do consciente, desviando da estrutura da psique em sua totalidade, passa a ser a fonte de infindáveis transgressões que pode culminar com a loucura e a perda do objetivo da estrutura em si.

Não podemos imaginar uma persona desprovida de “eu”. Não pode haver persona sem alguém que diga: "eu tenho consciência". O “eu” é o centro da persona. O “eu” é a aglutinação da individualidade consciente. A persona precisa de um centro, de um “eu”. O “eu” é o ser que transfere para o somático os pensamentos e as emoções.

O “eu” exclui o inconsciente, mas o inconsciente faz o “eu” sucumbir às suas influências (inconscientes) e estas são muitas vezes mais verdadeiras e lúcidas do que o pensar consciente. Os motivos inconscientes muitas vezes triunfam sobre decisões do “eu”, especialmente quando se trata das questões principais da vida. O destino individual depende em grande parte de fatores inconscientes. As decisões do “eu” dependem do funcionamento imperturbável do inconsciente. O “eu” sofre muitas vezes com a interferência perturbadora de conteúdos inconscientes. O desconhecimento do “eu” sobre o inconsciente coloca em perigo toda a estrutura da psique pelo fascínio, dissociação, possessões e repressão do próprio “eu” contra o inconsciente, podendo provocar a perda do objetivo primordial da estrutura psíquica que é o gerar a individualidade.

O “eu” não pode absorver o inconsciente coletivo e também não pode reprimir o inconsciente, pois o inconsciente é vida, a qual se volta contra o “eu” se for reprimida, como ocorre nas neuroses. No “eu” normal existe uma colaboração natural entre o inconsciente e o consciente, a relação ocorre sem atritos e perturbações, de modo que a existência do inconsciente nem é percebida. Quando o “eu” se desvia demasiado do fundamento instintivo, vivencia todo o impacto das forças inconscientes.

Em síntese: A Persona é formada por todos os ensinamentos que recebemos a partir do momento em que ocorre o nascimento. A persona é uma totalidade formada pela consciência e pelo “eu”. A persona não ultrapassa o pórtico da consciência. A persona mantém-se firmemente ancorada na terra, desconhecendo o inconsciente. É impossível dizer os limites do campo da consciência, porque pode estender de modo indeterminado no espaço/tempo. Ele alcança o seu limite quando toca o âmbito do seu desconhecido.

1.2 O Inconsciente Pessoal

Todos os fatores conscientes reprimidos pela persona, devido a valores culturais, formam o inconsciente pessoal. O inconsciente pessoal é o estado dos conteúdos reprimidos ou esquecidos. Espaço de concentração dos conteúdos esquecidos e recalcados.

O inconsciente pessoal possui sua origem nas vivências pessoais reprimidas que são esquecidas, podendo voltar ao nível consciente pelo trabalho de anamnese.

Os conteúdos do inconsciente pessoal são aquisições da existência individual da persona que foram reprimidos e os denominamos de “sombra” sendo a figura mais facilmente acessível à experiência, pois é possível ter um conhecimento bastante aprofundado de sua natureza. A “sombra” é o elemento inconsciente que mais freqüente e intensamente influencia ou perturba a persona. Uma pesquisa mais acurada dos traços obscuros do caráter, isto é, das inferioridades da persona constituem a sombra, que possui determinada estrutura, uma natureza emocional, certa autonomia.

A sombra é aquela personalidade oculta, recalcada, frequentemente inferior e carregada de culpas. Com a análise da sombra e dos processos nela contidos a persona pode sair da casca. A sombra é a inferioridade, a ausência do bem. Um mundo tenebroso que oculta no seu interior fatores autônomos e influentes, em si indistinguíveis que foram repelidos pela persona.

A sombra coloca obstinada resistência ao controle social e os traços característicos da sombra podem ser reconhecidos através dos atos falhos ou sintomas, mas há pouca esperança de que a persona tome consciência.

A sombra representa o inconsciente pessoal, podendo atingir a consciência sem dificuldades no que se refere a seus conteúdos, além de ser percebida e visualizada, pois ela é de natureza pessoal.

A sombra elabora um casulo que envolve a persona que somente com muita dificuldade a persona consegue desfazer, pois, a sombra é o lado obscuro da própria personalidade, muitas vezes inacessível a própria consciência da persona.

A sombra é uma parte viva da persona e por isso quer comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou torná-la inofensiva através da racionalização. No entanto, mais cedo ou mais tarde, as contas terão que ser acertadas. A sombra é, no entanto, um desfiladeiro, um portal estreito cuja dolorosa exigüidade não poupa quem quer que desça ao poço profundo.

A sombra centraliza as coisas desagradáveis que a persona evita e se formos capazes de ver nossa própria sombra, e suportá-la, resolveríamos apenas uma pequena parte do problema.

Síntese: No Inconsciente Pessoal estão recolhidos todos os fatores que a persona reprimiu. Espaço de concentração dos conteúdos esquecidos e recalcados. O Inconsciente Pessoal é denominado de Sombra, sendo a figura mais facilmente acessível à experiência. A sombra centraliza as coisas desagradáveis que a persona evita.


1.3 O Inconsciente Coletivo

É um preconceito supor que algo nunca pensado possa não ter existência dentro da estrutura da psique. Muitas coisas acontecem num estado de semiconsciência, e outras tantas sucedem inconscientemente. O inconsciente apresenta conteúdos completamente diversos da consciência, tão estranhos que a consciência não os compreende.

O Inconsciente coletivo costuma perder sua energia progressivamente, a não ser que receba energia de fora, assim sendo, provoca resultados que libertam energias para a sua manutenção. Podemos pensar que quando os aspectos obscuros desaparecem é porque não existem mais, no entanto, quando conseguem absorver energia se manifesta em toda potencialidade. Quando perde energia entra no estado de potencialidade, podendo ser reanimado. Salientamos que o Inconsciente Coletivo não se desfaz em fumaça, mas recolhem-se no inconsciente devido à perda de energia, mas espera por uma oportunidade favorável para reaparecer com toda sua intensidade.

1.3.1 Conceito Inconsciente Coletivo

O inconsciente coletivo são representações energéticas coletivas, conteúdos psíquicos que ainda não foram submetidos a qualquer elaboração consciente. São imagens primordiais ou modelos energéticos que influenciam toda a psique e também a forma humana. Deve ser considerado como uma realidade autônoma de caráter enigmático, possuindo uma essência diferente dos processos físico-químicos, escapando aos caprichos e manipulações da consciência.   

O inconsciente não é uma segunda personalidade com um funcionamento organizado e centralizado, mas provavelmente uma soma descentralizada de processos psíquicos fragmentados, sem problemas, carentes de auto-reflexão, sem conflitos, sem dúvidas, sem sofrimento. O aspecto geral do inconsciente coletivo é principalmente caótico e irracional, apesar de certos sintomas de inteligência e propósito.

Os conteúdos do inconsciente coletivo são chamados arquétipos que existem sempre a priori e permanecem sempre estranhos para o mundo da consciência, por isso são indesejáveis, uma vez que saturam a atmosfera com premonições sinistras ou com o medo da loucura. Os conteúdos são os mesmos em toda parte e em todos os indivíduos, substrato psíquico comum de natureza psíquica suprapessoal que existe em cada indivíduo.

Os conteúdos do inconsciente podem permanecer em estado de repouso, isto é, não projetado, assim sendo, tudo indica que essa região oculta nada contém, por isso sempre nos surpreendemos quando algo desconhecido para a consciência aparece subitamente de um nada aparente. No estado de repouso os conteúdos do inconsciente coletivo não possuem formas definidas, constituindo uma estrutura formalmente indefinida, mas com a possibilidade de manifestar-se em formas determinadas, através da projeção, emanando influências determinantes. As formas manifestadas do inconsciente coletivo são, em sua maior parte, caótica e assistemática. Os sonhos, por exemplo, não denotam nenhuma ordem aparente, nem qualquer tendência à sistematização. Há pouca esperança de encontrar uma ordem no inconsciente, equivalente à que se encontra na consciência do eu.

É de particular importância que não se pense no inconsciente coletivo como em imagens fantásticas que passam rápidas, mas como fatores permanentes e autônomos, coisas que o são na realidade, vivendo em períodos de milênios. O Inconsciente Coletivo vive num mundo bem diverso do mundo exterior, num mundo em que o pulso do tempo bate infinitamente devagar, em que nascimento e morte de indivíduos contam pouco. Não admira que seu ser seja estranho, tão estranho que sua entrada na consciência significa muitas vezes algo como uma loucura.

Em síntese, podemos dizer que o inconsciente coletivo não são representações individuais e sim conteúdos psíquicos comum de natureza suprapessoal que influencia cada ser humano, são modelos energéticos que possuem uma essência diferente dos processos físico-químicos e permanecem sempre estranhos para o mundo da consciência. No estado de repouso não possuem formas definidas, mas, quando se manifestam passam a ter formas e influenciam diretamente os seres humanos.


1.3.2 Origem do Inconsciente Coletivo

Os conteúdos do inconsciente coletivo são imagens primordiais que existem desde os tempos mais remotos. Repousa sobre uma camada mais profunda, que já não tem sua origem em experiências ou aquisições pessoais, mas universal. Podemos dizer que são imagens inconscientes dos próprios instintos, representando o modelo básico do comportamento instintivo.

As formas instintivas ou matrizes instintivas perseguem suas metas inerentes antes de toda conscientização, independente do grau de consciência. Podemos admitir sem hesitação que a atividade humana é em grande escala influenciada por essas formas instintivas. São forças motrizes especificamente formadas, que perseguem suas metas inerentes antes de toda conscientização, independente do grau de consciência.

O inconsciente coletivo possui a sua origem nas emanações dos instintos de todos os seres vivos que existiram em nosso planeta, assim sendo, o inconsciente coletivo também é conhecido como alma instintiva de caráter impessoal.

Jung tenta explicar a origem do Inconsciente Coletivo: “quem olha dentro da água vê sua própria imagem, mas atrás dele surgem seres vivos; possivelmente peixes, habitantes inofensivos da profundeza, seres aquáticos de um tipo especial. Às vezes, podemos ver uma ninfa (peixe feminino, semi-humano). A sereia é um estágio ainda mais instintivo de um ser mágico feminino, que designamos pelo nome de anima. Também podem aparecer as ondinas, ninfas do bosque e súcubos. Essas figuras são projeções de estados emocionais nostálgicos e de fantasias condenáveis, dirá o crítico moralista. Impossível não admitir que esta constatação seja de certa forma verdadeira. Será a sereia apenas um produto de um afrouxamento moral? Não existiram tais seres em épocas remotas, em que a consciência humana nascente ainda se encontrava por inteiro ligado à natureza? Seguramente devem ter existido primeiro os espíritos na floresta, no campo, nos cursos de água, muito antes dos questionamentos da consciência moral. Além disso, esses seres eram tão temidos como sedutores, de modo que seus estranhos encantos eróticos não passavam de características parciais. A consciência era, então, bem mais simples e o domínio sobre ela absurdamente pequeno. Uma quantidade infinita do que agora sentimos como parte integrante de nossa própria natureza psíquica ainda volteia alegremente em torno do homem em amplas projeções”.

Síntese: a origem do Inconsciente Coletivo está nas emanações dos instintos de todos os seres vivos que existiram em nosso planeta, assim sendo, o inconsciente coletivo também é conhecido como alma instintiva de caráter impessoal. É formado por subpartículas e no estado de atividade assumem formas capazes de serem vistas. Sendo vistas ou não influenciam diretamente a estrutura da psique humana. As imagens primordiais instintivas existem no espaço vivenciando suas formas energéticas. A onda do Inconsciente Coletivo arrebata o ser humano fazendo-o esquecer de sua verdadeira natureza, levando a persona a fazer coisas totalmente antagônicas. A persona submerge com facilidade no inconsciente, dando espaço à possessão.


1.3.3 Localização do Inconsciente Coletivo

As imagens primordiais instintivas existem no espaço vivenciando suas formas energéticas.

1.3.4 Relação do Inconsciente Coletivo com o Ser Humano

O Inconsciente Coletivo encobria totalmente a persona do ser humano primitivo devido ao estado crepuscular de sua consciência, fazendo-o ficar próximo do instinto e se apegar ao tradicionalismo. O ser humano primitivo não pensava, mas sim que "algo pensava dentro dele". Sua consciência era invadida pelo poderosíssimo Inconsciente Coletivo, daí o temor de influências mágicas que a qualquer momento podiam atravessar a sua intenção. O ser humano primitivo estava cercado de poderes desconhecidos aos quais devia ajustar-se de algum modo. Devido ao estado crônico de invasão do Inconsciente Coletivo era quase impossível descobrir se ele apenas tinha sonhado alguma coisa ou se a vivenciava na realidade. O mundo mítico dos antepassados, por exemplo, o atacava constantemente.

Os milênios passaram e o ser humano moderno associa os impulsos do Inconsciente Coletivo como sendo emanações divinas, colocando-se em consonância com as figuras astrais que influenciam a vida psíquica, passando a funcionar como tem funcionado o ser humano em todos os lugares e em todas as épocas. Há sonhos e visões tão superiores que certas pessoas se negam a reconhecer uma psique inconsciente como sua origem. Preferem supor que tais fenômenos provêm de uma espécie de "supraconsciência". Na realidade esta psique, denominada pelos filósofos indianos consciência "superior", corresponde ao que no Ocidente se chama "inconsciente". 

As emanações do Inconsciente Coletivo são orientadas para metas específicas visando à sobrevivência do próprio Inconsciente Coletivo. As emanações, mesmo quando se comporta em oposição à consciência, sua expressão é sempre compensatória de um modo inteligente, como se estivesse tentando recuperar o equilíbrio perdido.

Os produtos do inconsciente pessoal e coletivo surgem primeiramente no estado de intensidade reduzida da consciência (em sonhos, sonhos acordados, delírios, visões, drogas, bebidas, rituais arrebatadores). Nesses estados cessa a inibição provocada pela consciência sobre os conteúdos inconscientes, e assim, paulatinamente o Inconsciente Coletivo vai tomando conta da persona.

O ser humano, com o passar dos anos passa a ser considerado “sujeito” em decorrência de sua sujeição ao Inconsciente Coletivo. A projeção provoca no sujeito o isolamento em relação à verdadeira natureza, fazendo o sujeito ter uma relação com as materializações do Inconsciente Coletivo, provocando uma relação ilusória. As projeções do Inconsciente Coletivo elaboram o mundo externo virtual que gera uma concepção irreal. Quanto mais projeções se interpõem entre o sujeito e a verdadeira natureza, tanto mais difícil se torna para a persona perceber suas ilusões.

A onda do Inconsciente Coletivo arrebata o ser humano fazendo-o esquecer de sua verdadeira natureza, levando a persona a fazer coisas totalmente antagônicas. A persona submerge com facilidade no inconsciente, dando espaço à possessão.

O perigo mortal para a estrutura da psique é sucumbir à influência fascinante do Inconsciente Coletivo, o que pode acontecer mais facilmente quando as imagens arquetípicas não são conscientizadas pelo persona. Caso a persona desconhece as influências dos arquétipos elas arrebatam toda a estrutura da psique gerando fenômenos de possessão. As possessões podem ser em nível de pessoa, em nível de grupo, absorver toda uma comunidade e até mesmo povos inteiros podem ser tomados pelo inconsciente coletivo.

As projeções do Inconsciente Coletivo aumentam quanto maior for o ponto cego. Quanto maior for a nossa inconsciência a esse respeito mais nos identificamos com estas figuras astrais.

Quando maior for à repressão ao Inconsciente Coletivo pela persona, mais ele se apodera da consciência, chegando a destruí-la. Um progresso viável só pode ocorrer através da cooperação entre persona, inconsciente pessoal e coletivo.

Quando reprimimos as figuras astrais elas voltam a se manifestarem em outro lugar e sob uma forma modificada, mas desta vez carregado de um ressentimento que transforma o impulso natural, em si inofensivo, em nosso inimigo. Podemos dizer que estas figuras são os grandes demônios. O vocábulo grego demônio exprime um poder determinante que vem ao encontro do homem, de fora.

A fonte principal para compreender o Inconsciente Coletivo é tomar consciência das nossas emoções, desejos e instintos e observar que todos eles são comuns não apenas aos humanos e sim aos animais. As imaginações humanas são seqüências fantasiosas geradas pelo Inconsciente Coletivo. Estamos vendo que o Inconsciente Coletivo atuando no ser humano gera sonhos, fantasias, visões, emoções e idéias.

Milhares de anos passaram e o ser humano moderno continua sujeito a emanação do Inconsciente Coletivo, valorizando o progresso que nada mais é que a centralização na satisfação dos instintos.

1.3.5 Documentos que retratam atuação do Inconsciente Coletivo


O inconsciente coletivo é explicado nos ensinamentos esotéricos, nos mitos e nos contos de fada que são expressões simbólicas do drama interno e inconsciente que o ser humano conseguiu compreender através das projeções do inconsciente. Os ensinamentos secretos contêm uma sabedoria revelada, originalmente oculta, e exprimem os segredos do inconsciente. Todos os livros sagrados fazem alusões ao processo de atuação do inconsciente coletivo, mostrando os caminhos para libertar o ser humano de suas influências virtualizadas.

1.3.6 Manifestações do Inconsciente Coletivo

O Inconsciente Coletivo é formado por subpartículas e no estado de atividade assumem formas capazes de serem vistas. Sendo vistas ou não influenciam diretamente a estrutura da psique humana. Vamos abordar a materialização do Inconsciente Coletivo nas seguintes atividades: arquétipo ingênuo; anima e animus, velho ancião e símbolos de transformação.

Síntese: materialização do Inconsciente Coletivo nas seguintes atividades: arquétipo ingênuo; anima e animus, velho ancião e símbolos de transformação.

13.6.1 Arquétipo Ingênuo

O arquétipo ingênuo é uma estrutura arquetípica antiguíssima, sendo o reflexo fiel de uma consciência humana que ainda não deixou o nível animal. Consciência primitiva ou bárbara tendo uma auto-imagem em um nível anterior de desenvolvimento. Personalidade de caráter pueril, inferior e totalmente infantil. Festas como o carnaval e outras semelhantes são reflexos ou descendentes da figura numinosa do arquétipo ingênuo.

 Os traços do arquétipo ingênuo possuem relação com certas figuras folclóricas conhecidas nos contos de fada: Dunga, o João Bobo e o Palhaço. O arquétipo ingênuo se manifesta em fenômeno conhecido como poltergeist, que sempre sucederam em todo tempo e lugar.


Embora o arquétipo ingênuo não seja propriamente mau, comete, devido à sua inconsciência e falta de relacionamento, as maiores atrocidades. As celebrações das “Saturnalia” que eram as festas celebradas no ano novo são manifestações do arquétipo ingênuo. A “Saturnalia” na Antigüidade tratava-se das danças inofensivas dos sacerdotes, do clero inferior, das crianças e subdiáconos na Igreja. Nessa ocasião era escolhido um bispo das crianças, paramentado com vestes pontificais. Este fazia uma visita oficial ao palácio do arcebispo, acompanhado de uma grande balbúrdia, e de uma das janelas do palácio distribuía sua bênção episcopal. No fim do século XII, a “Saturnalia” já havia degenerado numa verdadeira festa de loucos. No ano de 1198, em Notre Dame (Paris), ocorreu excesso, atos infames, palavras sujas, como também pelo derramamento de sangue que o papa Inocêncio III manifestou-se, mas inutilmente, contra as brincadeiras escarnecedoras das loucuras dos clérigos. Trezentos anos mais tarde ( 12 de março de 1444) uma carta da Faculdade Teológica de Paris, endereçada a todos os bispos franceses, clama contra essa festa, em que "os próprios sacerdotes e clérigos escolhiam um arcebispo, ou bispo, ou papa, designando-o como o papa dos loucos.. No meio da missa, pessoas fantasiadas com máscaras grotescas ou de mulher, de leões ou de atores apresentavam suas danças, cantavam no coro canções indecentes, comiam comidas gordurosas num canto do altar, ao lado do celebrante da missa, jogavam os seus jogos preferidos. Incensavam com fumaça fedorenta, queimando o couro dos sapatos velhos e corriam e saltitavam por toda a Igreja.
O arquétipo ingênuo continua a ser uma fonte de divertimento que se prolonga através das civilizações, sendo reconhecível nas figuras carnavalescas de um polichinelo e de um palhaço.

A influência do arquétipo ingênuo nas pessoas resulta em travessuras engraçadas ou maliciosas devido ao seu baixo nível de inteligência.


O arquétipo ingênuo se manifesta também em um nível de consciência dependente onde responsabilizamos a sociedade ou o outro por nossa própria ineficiência, devido à puerilidade que nos absorve. O nível de consciência que se coloca dependente do outro é fortemente influenciada pelo arquétipo ingênuo.

Síntese: o arquétipo ingênuo é uma estrutura arquetípica antiguíssima, sendo o reflexo fiel de uma consciência humana que ainda não deixou o nível animal. Personalidade de caráter pueril, inferior e totalmente infantil. Festas como o carnaval e outras semelhantes são reflexos ou descendentes da figura numinosa do arquétipo ingênuo.

1.3.6.2 Anima e Animus

Um dos arquétipos do inconsciente coletivo é a anima e o animus, sendo representado pelos pares divinos (masculino-feminino), yang (masculino) e yin (feminino). O animus e anima é apenas um dos possíveis pares de opostos existentes no inconsciente coletivo, mas na prática é um dos mais importantes e freqüentes.

O animus e a anima constituem parte de um domínio especial do Inconsciente Coletivo, que defende sua inviolabilidade com o máximo de obstinação, por isso é muito difícil conscientizar-se das projeções do par animus/anima, sendo necessário vencer muitas resistências para desvelar o casal astral.

Nos seres humanos o animus lança mão da espada de seu poder e a anima asperge o veneno de suas ilusões e seduções. Anima imprime uma relação meditativa e o animus na relação de reflexão. É muito difícil combinar sentimento e intelecto, pois os dois se repelem. Quem se identificar com um ponto de vista reflexivo, poderá eventualmente confrontar-se com o sentimento sob a forma da anima, numa situação de hostilidade; inversamente, uma anima meditativa será atacada por um animus brutalizado do ponto de vista do sentimento. Eles são, no verdadeiro sentido da palavra, o pai e a mãe, o par opostos de deuses.

Eles existem quer a consciência lhes reconheça o valor ou não, pois o seu poder aumenta de modo proporcional ao grau de inconsciência do “eu”. Quem não os percebe, fica ao seu sabor, como essas epidemias de tifo que se alastram quando não se conhece a sua fonte infecciosa. Só quando lançamos um jato de luz nas profundezas obscuras e exploramos psicologicamente os caminhos estranhamente submersos do destino humano é que podemos perceber, pouco a pouco, como é grande a influência desses dois complementos da consciência.

Síntese: anima e o animus, sendo representado pelos pares divinos (masculino-feminino), yang (masculino) e yin (feminino). Nos seres humanos o animus lança mão da espada de seu poder e a anima asperge a sedução. Anima imprime uma relação meditativa e o animus na relação de reflexão. O arquétipo “anima” é geralmente projetada na forma de mulher e o animus projetado na forma de pai e senhor.

1.3.6.2.1 Anima

O arquétipo “anima” é geralmente projetada na forma de mulher, mas, adota uma variedade incalculável de formas astrais e mencionamos apenas algumas: a forma de mãe; avó; madrasta e sogra; uma mulher qualquer; ama-de-leite; antepassada; mulher branca; deusa; mãe de Deus, Virgem Maria, Sofia. Em sentido mais amplo: paraíso, reino de Deus, Jerusalém Celeste, Igreja Universal, o Céu, a Terra, a floresta, o mar, as águas quietas; a matéria; o mundo subterrâneo; a Lua; lugar de nascimento ou da concepção, a terra arada, o jardim, a gruta, a árvore, a fonte, o poço profundo, a pia batismal, a flor, círculo mágico, o útero, qualquer forma oco; o forno; o caldeirão; a vaca. “Anima” pode aparecer também sob a forma de um animal, de uma bruxa, fantasma, canibal, hermafrodita e coisa deste tipo.


A exacerbação do feminino significa uma intensificação de todos os instintos femininos, e em primeiro lugar do instinto materno. O aspecto negativo desta é representado por uma mulher cuja única meta é parir. O homem para ela é algo secundário; sendo essencialmente o instrumento de procriação, classificando como um objeto a ser cuidado. Primeiro, ela leva os filhos no ventre, depois se apega a eles, pois, sem os mesmos não possui nenhuma razão de ser. Este tipo de mulher, embora sempre parecendo sacrificar-se pelos outros, na realidade é incapaz de um verdadeiro sacrifício. Seu instinto materno impõe-se brutalmente até conseguir o aniquilamento da própria personalidade e da de seus filhos. Quanto mais inconsciente de sua personalidade for uma mãe deste tipo, tanto maior e mais violenta será sua vontade de poder inconsciente.

O atributo positivo da anima é sabedoria; elevação espiritual, bondade; cuidadosa, sustenta; proporciona as condições de crescimento; fertilidade; alimento; do renascimento; sedução; fidelidade; moralista.

O reflexo da “anima” no corpo masculino ou feminino difere bastante: o efeito típico no corpo masculino é o homossexualismo, o dom-juanismo e eventualmente também a impotência. No homossexualismo o componente heterossexual fica preso à figura da mãe de modo inconsciente; no dom-juanismo, a mãe é procurada inconscientemente em cada mulher.

Quanto mais o indivíduo conscientiza da anima, tanto mais ela perde seu caráter impetuoso e compulsivo. Pouco a pouco o indivíduo vai criando conscientemente os diques para evitar a inundação do caos e assim surge um novo cosmo. Não se trata de uma nova descoberta da psicologia, mas de uma verdade milenar, da riqueza da experiência da vida vem o ensinamento que o pai transmite ao filho.


1.3.6.2.2 Animus

Animus é o pai astral e possui tendência a argumentar. É nas discussões obstinadas em que mais se faz notar a sua presença. O que importa é o poder da verdade ou da justiça ou qualquer outra coisa abstrata sendo a soma das opiniões tradicionais desempenhando um grande papel na argumentação. Em inúmeros casos o animus se manifesta pela prática da crueldade quando a verdade e a justiça são rompidas.

Animus sob a forma do pai expressa não somente opiniões tradicionais como também aquilo que se chama “espírito” e de certas concepções filosóficas e religiosas universais, ou seja, aquela atitude que resulta de tais convicções.

As projeções do animus são poderosas e enchem imediatamente a personalidade do sentimento inabalável de que ela está de posse da justiça e da verdade e em segundo lugar porque sua origem parece fundada consideravelmente em objetos e situações objetivas.

1.3.6.3 Arquétipo do Velho Sábio


O Inconsciente Coletivo se manifesta no velho mago ou velho sábio, que remonta diretamente à figura do xamã a sociedade primitiva. Como a anima, ele é um arquétipo imortal que penetra na obscuridade caótica da vida. Ele simboliza o iluminador, o professor e mestre, o guia das almas. Espírito superior de uma idade quase homérica, para tornar-se portador e porta-voz da iluminação e êxtase dionisíaco.

Síntese: velho sábio é o arquétipo que reúne o conhecimento dos xamãs e místicos que viveram e passaram pelo nosso planeta. Doador de conhecimento, mas não sabe a praticidade.


1.3.6.4 Arquétipo de Transformação

O Inconsciente Coletivo manifestado em símbolos as antigas sabedorias ou caminhos de transformação da psique. Os referidos símbolos são traduzidos nos livros sagrados das diversas religiões. O objetivo dos símbolos é levar a consciência refletir sobre a transcendência, superando a situação inicial.

Jung conta que: por volta de 1906 deparou com a curiosa fantasia de um indivíduo internado há muitos anos. Estava junto à janela, movendo a cabeça de um lado para outro, piscando para o Sol. Pediu a Jung que fizesse o mesmo, prometendo que veria algo muito importante. Ao perguntar-lhe o que estava vendo, ele espantou-se porque eu nada via, e disse: “O senhor está vendo o pênis do Sol. Quando movo a cabeça de um lado para outro ele também se move e esta é a origem do vento”. Salienta Jung que cerca de quatro anos depois, ao estudar mitologia, descobriu um livro que comentava um papiro grego da liturgia mitraica que dizia: “Procura nos raios a respiração, inspira três vezes tão fortemente quanto puderes e sentir-te ás erguido e caminhando para o alto, de forma que acreditarás estar no meio de região aérea. O caminho dos deuses visíveis aparecerá através do Sol, o Deus, meu pai; do mesmo modo, ficará visível o assim chamado tubo, a origem do vento propiciatório. Pois verás pendente do disco solar algo semelhante a um tubo. E rumo às regiões do oeste, um contínuo vento leste; se o outro vento prevalecer em direção ao leste, verá, de modo semelhante, a face movendo-se nas direções do vento.”
O Sol é um dos símbolos de transformação revelando a existência da luz divina que tudo ilumina.

Síntese: o arquétipo de transformação reúne todos os símbolos que os velhos sábios usavam para sintetizar suas teorias.


1.3.6.5 Arquétipo de Divindades

Existem no Inconsciente Coletivo arquétipos de divindades que materializam os pensamentos dos seres humanos desde a antiguidade mais remota, assim sendo, vamos encontrar materializações dos “seres divinos” representantes das concepções humanas mais diversas.

Síntese: são figuras astrais materializando todas as concepções do deuses que os povos elaboraram e continuam elaborando.

1.4 O Si-Mesmo



O Si-Mesmo não é uma invenção qualquer, mas uma experiência que a persona pode vivenciar. A imagem divina do homem, o Si-Mesmo, foi encoberta pelas figuras astrais (Inconsciente Coletivo), mas, pode ser descoberta com a ajuda de Deus, de acordo com o que a Carta aos Romanos 12:2. “E não vos conformeis com os esquemas deste mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que possa discernir qual é a vontade de Deus”.

Não é difícil a persona ter uma percepção do Si-Mesmo, desde que compreenda os enunciados universais que Deus está em dentro de nós. A persona se apodera com facilidade do enunciado que o Si-Mesmo é a imagem e semelhança Deus em nosso interior. O ter o conhecimento que o Si-Mesmo é o ser criado por Deus a sua imagem e semelhança e que está no centro da estrutura da psique é um grande passo, mas não é o objetivo. Quando compreendemos intelectualmente caímos na ilusão que estamos vivenciando o Si-Mesmo, mas na realidade nada se conseguiu, a não ser um saber intelectual a respeito do Si-Mesmo. Desde épocas antigas as pessoas confundem o saber com a vivência em Deus, a idéia concebida com o próprio objeto, bastando saber, ou pronunciar o nome para tornar presente o objeto. Na realidade, a razão teve razões de sobra para reconhecer, ao longo dos séculos, a futilidade dessa opinião; mas isto não impediu que, ainda em nossos dias, o mero

Uma percepção meramente intelectual pouco significa, pois o que se conhece são palavras e não a substância a partir de dentro. A persona tem que ser afetada pelo Si-Mesmo pelo processo, é inerente a todo processo psíquico a qualidade de valor, isto é, a tonalidade afetiva.

Devemos saber que apenas quando a persona é afetada pelo Si-Mesmo é que entra em movimento a estrutura da psique para expulsar todas as figuras astrais que influenciam a estrutura iniciando o processo natural de desenvolvimento que culmina com o afloramento do ser interior.

O ato de a persona ser afetada pelo Si-Mesmo provoca uma relação intrínseca no “eu” e na consciência que materializa em sentimentos, emoções e ações a relação da afetividade. Da mesma maneira que o vinho novo não deve ser colocado em odres velhos, da mesma forma que a serpente troca de pele, assim também, inicia o novo a partir desse relacionamento. Quando o Si-Mesmo afeta a persona, ela, pela primeira vez começa a sentir o que é paz.

A persona deve buscar unicamente tornar-se receptiva as emanações do Si-Mesmo como se não tivesse outra coisa a fazer, deixando o Si- Mesmo se revelar.
Quando a persona é afetada pelo Si-Mesmo a trajetória da persona sofre um desvio, passando a descrever um movimento circular em torno de seu princípio interior, em torno de um centro que é o Si-Mesmo. A persona movimenta-se em torno de seu centro, isto é, em torno do princípio de onde ela procede. A persona se mantém presa ao Si-Mesmo, movimenta-se em direção a Ele, como deveriam fazer todas as personas. Mas somente as personas dos deuses se movimentam em direção a Ele, e por isso são deuses, pois tudo o que se acha unido a esse centro é, em verdade, deus, ao passo que o que se acha afastado do centro é homem, filho das trevas e demoníaco.

Existe um centro, um lugar central no interior da estrutura da psique, com o qual tudo se relaciona, sendo uma fonte de energia. A energia do ponto central manifesta-se na compulsão e ímpeto irresistíveis de tornar-se a imagem e semelhança do perfeito. Este centro não é pensado como sendo a persona, mas pensado como sendo o Si-mesmo.

Chega-se um momento em que a persona deve morrer para que o Si-Mesmo possa se manifestar. A persona apenas preparou o caminho para surgir o Si-Mesmo. O Si-Mesmo é peixe que surge das profundezas da estrutura da psique.

O centro da estrutura da psique flui o Oceano, a água virgem, sendo a verdadeira porta pela qual a persona deve passar, a fim de ver o filho de Deus renascer. O que estava morto ressuscitou, ao atravessar a porta dos céus.

Para os alquimistas o si-mesmo, não está na consciência da persona, mas fora dela, e precisamente já em nós; não, porém, “in mente nostra”, e sim naquilo que somos e ainda não conhecemos, isto é, naquele que precisamos conhecer. Hoje em dia damos-lhe o nome de inconsciente impessoal (Si-mesmo), distinguindo do inconsciente pessoal e do inconsciente coletivo
.
O Si-Mesmo não é captado em sua totalidade pela persona, pois ocorreria uma catástrofe psíquica, pois, a persona assimila apenas alguns aspectos do Si-Mesmo. A busca da persona pelo Si-mesmo é em decorrência da imagem do Si-Mesmo que esta gravada no inconsciente da psique impulsionando o desejo pelo Si-Mesmo.

O si-mesmo, em sua totalidade, se situa além dos limites pessoais representando uma totalidade metafísica de natureza divina ou celeste. O si-mesmo se acha ligado à imagem e identificado com Deus, não podendo ser captado em sua totalidade devido sua infinitude.

O Si-Mesmo é o centro que dissipa as dúvidas criando um fato consumado e podemos designar esta instância como vontade de Deus ou como sendo operação das forças da natureza.

O Si-Mesmo concebido como sendo vontade de Deus, o que implica admitir que as forças naturais sejam forças divinas, tem a vantagem de a decisão se apresentar, em tal caso, como um ato de obediência como sendo algo planejado por Deus.

O si-mesmo é uma estrutura que não ocupa o lugar da persona, mas é uma estrutura mais abrangente que a persona. O si-mesmo não pode ser captado em sua totalidade pela persona. O Si-mesmo não fica circunscrito ao âmbito da consciência da persona, pois seus limites são impossíveis de ser fixado.

No plano da objetividade o Si-Mesmo é representado pelo filho do homem transfigurado, o Filho de Deus que não foi manchado pelo pecado. Cristo é o símbolo do Si-Mesmo que é a verdadeira imagem de Deus. Si-Mesmo é o ser humano interior, invisível, incorporal e imortal. Cristo é para nós a analogia mais próxima do Si-Mesmo e de seu significado. O Si-Mesmo é o arcanum, a pedra preciosa que está no interior da persona que a persona ignora, mas que ao tomar consciência passará a busca. Quando a persona busca o Si-Mesmo todos os demônios astrais fogem.

Apesar do Si Mesmo não parecer mais do que uma noção abstrata, contudo é uma noção empírica, antecipada na psique por símbolos espontâneos ou autônomos. São estes os símbolos da quaternidade e dos mandalas, que afloram não somente nos sonhos do homem moderno, que o ignora como também aparece amplamente difundido nos monumentos históricos de muitos povos e épocas. Seu significado como símbolos da unidade e da totalidade é corroborado no plano da história e também no plano da psicologia empírica. “O que parece à primeira vista uma noção abstrata é, na realidade, algo de empírico, que revela espontaneamente sua existência apriorística. A totalidade constitui, portanto, um fator objetivo que se defronta com o sujeito, de modo autônomo.

O Si-Mesmo nos sonhos modernos é representado pelo elefante, cavalo, touro, urso, do pássaro branco e preto, do peixe e da serpente. Também ocorre a tartaruga, o caracol, a aranha e o escaravelho. Símbolos vegetais são, principalmente, a flor e a árvore. Dentre os objetos inorgânicos que aparecem com relativa freqüência, devem-se mencionar ainda o monte e o lago. Nos casos em que há menosprezo pela sexualidade, o Si-Mesmo aparece simbolicamente em forma de falo.

O Si-Mesmo é representado também pela mandala, pelo ouro ou por recipientes herméticos. O si-mesmo simbolizado pelo recipiente hermético, pois este foi escondido, divinamente, por obra da sabedoria do Senhor, da vista das nações, e os que não o conhecem, também ignoram o verdadeiro método. O Ancião diz que devemos procurar mais a visão do que o conhecimento da Sagrada Escritura. Maria, a profetisa, afirma: “Este é o recipiente de Hermes, que os estóicos esconderam. O Si-mesmo na alquimia chinesa, é denominado "corpo de diamante"; ele corresponde ao corpo incorruptível da alquimia, que é idêntico ao corpo glorioso da ressurreição.

O Si-Mesmo também é simbolizada por uma criança. Um aspecto fundamental do motivo da criança é o seu caráter de futuro. A criança é o futuro em potencial. A vida é um fluxo, um fluir para o futuro e não um dique que estanca e faz refluir. Não admira que tantas vezes que os salvadores míticos são crianças divinas. A criança pode ser expressa, por exemplo, pelo redondo, pelo círculo ou pela esfera, ou então pela quaternidade como outra forma de inteireza. O si-mesmo, representado pela criança é "menor do que o pequeno e, no entanto, maior do que o grande" complementa a impotência da "criança" com os seus feitos igualmente maravilhosos. A criança é o símbolo que não aponta mais para trás, mas para frente, para uma meta ainda não atingida. Portador de cura e superação dos conflitos. O inconsciente pode nulificar a criança (si-mesmo). O perigo ou ameaças a criança é representado por dragões, cobras e vertebrados inferiores que são símbolos do substrato do Inconsciente Coletivo. A criança, o si-mesmo é o herói que deve vencer o monstro da escuridão: a vitória esperada do si-mesmo sobre o Inconsciente Coletivo. O nascimento da criança é provavelmente a experiência mais forte da existência humana. "E Deus disse: Faça-se a luz.!" A luz foi feita e a escuridão desapareceu.

Nada no mundo dá as boas-vindas ao nascimento da criança, mas apesar disso ele é o fruto mais precioso e prenhe de futuro da própria natureza originária; significa em última análise um estágio mais avançado da auto-realização. "Criança" significa algo que se desenvolve rumo à autonomia.

O mito enfatiza que a "criança" é dotada de um poder superior e que se impõe inesperadamente, apesar de todos os perigos. A "criança" nasce no útero do inconsciente, gerada no fundamento da natureza humana, ou melhor, da própria natureza viva. É uma personificação de forças vitais, que vão além do alcance limitado da nossa consciência, dos nossos caminhos e possibilidades, desconhecidos pela consciência e sua unilateralidade, e uma inteireza que abrange as profundidades da natureza. Ela representa o mais forte e inelutável impulso do ser, isto é, o impulso de realizar- se a si mesmo. O impulso e compulsão da auto-realização é uma lei da natureza e, por isso, tem uma força invencível, mesmo que o seu efeito seja no início insignificante e improvável.

A criança corresponde ao que é "menor do que pequeno e maior do que grande": o si-mesmo, como fenômeno individual, "menor do que pequeno", mas como equivalente do mundo, "maior que o conhecimento do mundo e da consciência. Criança é o sujeito transcendente do conhecer, pólo oposto do universo empírico. A criança é o ovo dourado, que não é filho do homem e nem do mundo. O ovo sai do útero do vasto mundo, sendo por isso um acontecimento cósmico.

Todas as aspirações da persona pela perfeição, tomada no último sentido, é não apenas legítima, como também uma característica inata do homem, e uma das mais profundas raízes da civilização. Esta aspiração é, inclusive, tão forte, a ponto de transformar-se em paixão, que tudo submete a seu império. Aspira-se, naturalmente, a uma perfeição em qualquer direção em decorrência do Si-Mesmo que nos atrai. O Si-Mesmo em virtude de suas qualidades se manifesta por fim como os “eidos” (idéias) de todas as representações supremas da totalidade e da unidade.

Si-Mesmo: Inconsciente profundo. Um conselheiro. Uma consciência mais elevada. Não é apenas a sabedoria superior, mas também a um modo de agir correspondente a ela, o qual ultrapassa a razão humana. Ser imortal. É o Cristo em nós. Totalidade e centro, sendo que ambos não coincidem com o eu, mas o incluem como um círculo maior contém o menor.

Síntese: O Si-Mesmo é o verdadeiro ser humano, imagem e semelhança de Deus, que está como potência na estrutura da psique. O ter o conhecimento que o Si-Mesmo é o ser criado por Deus a sua imagem e semelhança e que está no centro da estrutura da psique não é o objetivo. A persona tem que ser afetada pelo Si-Mesmo. O Si-Mesmo deve se manifestar com toda a sua potencialidade.


1.5 O Somático

A estrutura somática de cada ser humano é a manifestação ou reflexos da estrutura psíquica. A estrutura da psique é morfogenética. As subpartículas que compõe os átomos humanos e consequentemente as células não se dispersam em decorrência da existência de uma matriz que denominamos estrutura da psique responsável pela disposição e formação do corpo humano. O corpo humano visível é o reflexo de um corpo matricial formado pela estrutura psíquica. A estrutura psíquica arrebatada pelo inconsciente elabora um tipo específico de corpo humano e a estrutura psíquica natural desenvolve outro tipo de corpo humano. O somático possui dois aspectos: o somático gerado pelo ser humano que é finito no espaço/ tempo e o somático glorioso denominado de Kadir.

Síntese: o corpo humano pode ser o instrumento da persona dirigida pelo inconsciente ou o corpo humano pode ser o veículo do Si-Mesmo.


CONCLUSÃO

A tendência moderna está associada à destruição e perda de consciência. A tradição simbólica e os mitos que revelam o processo do nascimento do novo ser desapareceram, ou foram recolhidos, fazendo surgir uma época de barbárie. O desenraizamento e a ruptura com a tradição mística neurotizou as massas e as colocou na histeria coletiva. Diante da histeria coletiva implanta a época do terror, o materialismo racionalista predomina e as prisões, asilos de loucos florescem.

Abandonando a loucura, o ser humano deve voltar ao ponto da meditação com a finalidade de compreender que consciência e inconsciente são aspectos da vida. A consciência defende as suas possibilidades e o inconsciente vivencia a sua caoticidade e os dois elementos possuem possibilidade de seguir os seus caminhos, assim deveria ser a vida humana. A consciência representando a cultura atual e o inconsciente reproduzindo todo o passado histórico da vida. Entre o confronto dos dois elementos surge o novo ser, o indivíduo que possui uma individualidade.

Não existe receita para possibilitar o nascimento de o novo ser diante da batalha entre consciência e inconsciente, trata-se de processo que se expressa através de determinados símbolos. O conhecimento dos símbolos é indispensável, pois é através dos símbolos que podemos entender a transcendência dos opostos. Ocorrendo a transcendência emergem novas situações ou novos estados de consciência. O Si-Mesmo possui “função transcendente".A "individuação" ocorre quando surge o individuo psicológico, ou seja, uma unidade indivisível, um todo., o Si-Mesmo.

Referência

JUNG,Carl Gustav. Os Arquétipos e O Inconsciente Coletivo.  Petrópolis: Editora Vozes, 2000